Statement da artista
Imagine um fóssil, que é quando o corpo de algo que era vivo se petrifica e pode durar por tempos geológicos. Eu sou encantada com a ideia da pedra, de virar pedra. No sentido de quando o meu corpo já não estiver aqui, de ser uma maneira de permanecer.
Eu gosto muito de pensar na natureza dos materiais. O vidro é uma mistura de areia de praia com calcário. Quando a gente mistura esses 2 materiais e leva a altíssima temperatura, a gente cria esse novo material que é o vidro. O vidro é um material que apesar da fragilidade, existe também a possibilidade de se recompor. Ele pode ser quebrado e refundido várias vezes que ele não perde as suas qualidades. O vidro é também um dos materiais que mais demora pra se decompor na natureza, e quando ele se decompor, voltar a ser o que era antes, areia do mar.
Se a gente pensar nesse retorno, nesse ciclo, e nos princípios da permanência e da impermanência, o vidro nos dá uma pista de que não são opostos. A matéria tem suas conversas, suas preferências, suas associações. A matéria é o exemplo da permanência, do perene. O que se transforma são os estados, a sua aparência física. Os estados são o exemplo da impermanência.
E nesse caso, os elementos associados que provocam a mudança de estado são: o fogo, pressão e o tempo.
O vidro é um mineral raro na natureza. É também um mineral que a humanidade aprendeu a produzir. É uma mistura de sílica (areia) com calcário. O calcário é o carbonato de cálcio, a mesma matéria de que é feito as conchas do mar, mesma matéria de que é feito nossos ossos e dentes.
Fisicamente, o vidro tem a aparência e a dureza dos cristais. Mas se você observar microscopicamente, seu comportamento (agrupamento molecular) é desorganizado. Sua natureza química é de um líquido. E por conta desse seu caráter ambíguo, é considerado também um 4º estado da natureza: o Vítreo. É um estado transitório, um atravessamento.